terça-feira, 12 de maio de 2015

A Praia


  Abriu seus olhos quando os raios atingiram seu globo ocular, ultrapassando as pálpebras e levantou-se. Talvez pudesse imaginar que apenas dormira na praia, que estava de férias por aquele oásis e logo mais voltaria à sua casa. onde teria uma comida suculenta e uma cama macia. Porém viu sua bermuda rasgada e feia, os pés sujos, cabelos coçando pelos piolhos. Tinha 7 anos apenas. Ao menos disso se lembrava.
  Caminhou devagar, com os pés afundando na areia fofa e branca, e a água límpida alisava seus calcanhares delicadamente. Revirou algumas latas de lixo com as mãos pequenas, pediu esmola, porém os tais "homo sapiens", gritavam-lhe absurdos. Desistiu. Com a esperança esvaziada, andou até o mar, as ondas quebravam, alertando-o. Então, estufou o peito, e gritou em plenos pulmões:
- Derrube-me! Eu irei continuar lutando, não irei me render tão facilmente!
  O vento açoitou o seu rosto e desinflou o peito orgulhoso, afinal, era apenas um menino de rua. Uma pequenina lágrima desceu melancólica pela bochecha, mas com decisão, retirou-a, antes que o céu pudesse rir de sua fraqueza.
  Ao longe, uma figura interessante vagava pela praia, um senhor barbudo e roupas desgastadas tal qual a do menino. Porém, sua barriga uivava faminta e sem pensar uma segunda vez, o rapaz correu apressado até o homem.
- O senhor por acaso teria algo para alimentar esse pobre menino?
- Me pedes alimento? Ah! Isso é coisa dos miseráveis de espírito, jovem. Tenho algo no qual alimentará sua alma - e dizendo isso, remexeu apressado o bolso furado de sua calça, e de lá retirou uma pequena estrela. Brilhava. Entregou-a ao menino.
- Quando estiveres com medo, lembre-se disso, e nunca deixe que ninguém a roube de você!
  Com aquele aviso, o menino virou nos calcanhares e correu de volta de onde tinha saído. Deitou-se novamente na areia, sob o a lua crescendo e analisou seu presente. Sentia o calor imitido por aquele astro e aquilo acalmava seus pensamentos turbulentos. Enchia-o de sonhos.
  Com os olhos pesados, desejou que a vida continuasse no dia seguinte. Deu um último sorriso aos céus e lembrou-se de uma frase que a muito tempo sua mãe havia lhe dito: " Em casa de menino de rua, o último a dormir apaga a lua."

Ester S.

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